Turistas em Risco: A Perigosa Desinformação Gerada por Inteligência Artificial
Miguel Ángel Gongora Meza, fundador da empresa Evolution Treks Peru, estava se preparando para uma expedição nas montanhas dos Andes quando ouviu uma conversa alarmante entre dois turistas. Eles planejavam uma caminhada solo em direção ao “Cânion Sagrado de Humantay”, um local que, segundo Gongora, não existe. Essa situação não é apenas um pequeno deslize de planejamento; é um exemplo claro de como a desinformação pode colocar a vida de viajantes em risco.
Os turistas, confiantes, mostraram a Gongora uma captura de tela de uma recomendação de viagem que parecia convincente, repleta de descrições coloridas. Contudo, a revelação de que o “Cânion Sagrado de Humantay” é uma invenção, resultado da combinação de palavras sem fundamento, expõe um grave problema. Os turistas haviam investido cerca de US$ 160 para chegarem a um caminho esquecido na zona rural de Mollepata, sem guia ou segurança.
Gongora é claro: essa desinformação pode ser letal. Ele alerta que a altitude e as condições dos terrenos peruanos devem ser bem planejadas. O uso indiscriminado de programas de IA para criar itinerários pode deixar os viajantes em situações imprevistas e perigosas. Ao confiar em ferramentas como o ChatGPT para planejar sua próxima aventura, os turistas podem se encontrar em locais altos, sem oxigênio ou sinal de telefone, o que poderia resultar em consequências trágicas.
Nos últimos anos, ferramentas de inteligência artificial tornaram-se parte integral do planejamento de viagens para milhões de pessoas. Embora possam oferecer dicas úteis, a imprecisão de suas recomendações pode levar os viajantes a frustrações e perigos. Historicamente, o ChatGPT e outras plataformas de IA têm deixado turistas em situações complicadas devido à sua incapacidade de fornecer informações confiáveis.
As experiências de turistas como um casal que usou o ChatGPT para planejar uma subida ao monte Misen na ilha de Itsukushima são reveladoras. Após serem mal informados sobre horários de teleféricos, acabaram presos no topo da montanha, enfrentando um pôr do sol inesperado e sem meios de descer. Esse tipo de confusão é apenas uma das várias que ocorrem ao redor do mundo.
Recentemente, foi reportado que usuários de IA foram levados a rotas inviáveis e até a destinos fictícios, como uma Torre Eiffel em Pequim. A frustração é crescente, com 37% dos usuários de IA relatando que as ferramentas não forneceram informações adequadas e 33% identificando recomendações que incluíam dados falsos.
O especialista Rayid Ghani afirma que a desinformação advinda da IA se torna especialmente problemática, pois essas ferramentas não possuem um entendimento real do mundo físico. Elas analizam grandes volumes de texto e podem produzir resultados que parecem coerentes, mas não necessariamente são verdadeiros. Essa “alucinação” da IA leva a uma confusão que pode desmontar a experiência de viagem.
Além disso, casos recentes mostram que conteúdos gerados por IA podem alterar a percepção da realidade. Incidentes coordenados por criadores de conteúdo têm desafiado os turistas a discernir entre o que é genuíno ou ilusório. Algumas plataformas, como o YouTube, utilizaram IA para modificar imagens sem consentimento, gerando desconfiança e angústia.
Os psicólogos estão preocupados com os impactos potenciais dessa desinformação na saúde mental dos viajantes. A experiência de viajar proporciona uma interação única com outros seres humanos, mas quando acabamos recebendo informações erradas, isso nos afasta do entendimento verdadeiro de diferentes culturas.
As tentativas de regulamentação da IA são críticas neste contexto. Propostas para incluir marcas d’água ou outros indicadores têm surgido tanto na União Europeia quanto nos Estados Unidos. Contudo, especialistas reconhecem a complexidade dessa tarefa, e muitos alertam que a detecção de desinformação é mais desafiadora do que a prevenção.
Se os governos conseguirem criar regras eficientes, os viajantes poderão ter mais segurança ao consumir informações geradas por IA. Entretanto, mesmo com essas regulamentações, as falhas de comunicação de chatbots podem permanecer um desafio. Portanto, a principal defesa contra desinformação é a vigilância. A recomendação é ser específico nas perguntas e nunca hesitar em confirmar as informações obtidas.
Ao fim, a atividade de viajar deve ser sobre descoberta e conexão genuína com o mundo. A capacidade de adaptação e uma mente aberta são fundamentais para aproveitar isso plenamente. A jornada pode ter percalços, mas as riquezas encontradas ao longo do caminho são insubstituíveis.
Imagem Redação
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