Resistência e Riqueza Cultural: O Jongo e Suas Raízes Afro-Brasileiras
O jongo, ritmo nascido dos batuques e danças de roda da tradição Banto, emerge como símbolo de resistência e legado cultural no Brasil. Sua ancestralidade está profundamente conectada às práticas culturais afro-brasileiras e se destaca como uma das bases do samba carioca.
Esse ritmo veio ao Brasil, durante o período colonial, com negros africanos oriundos do Congo e de Angola, que foram trazidos como escravizados para trabalhar nas fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, abrangendo regiões do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A historiadora Marta Abreu, da Universidade Federal Fluminense, ilustra a luta e a resiliência desses africanos:
“Os africanos que chegam reconstroem suas vidas, redes de solidariedade e familiares, e a manifestação cultural, por meio do jogo, é essencial para fortalecer essas conexões. Manter as práticas culturais era uma bandeira de luta dos escravizados”.
Segundo relatos históricos, os jongueiros utilizavam os tambores para invocar a natureza, fazendo brotar bananeiras — um ato simbólico de comunicação com a comunidade e com o sagrado. Esses instrumentos, revestidos de espiritualidade, funcionavam também como um meio de resistência, expressando mensagens ocultas contra a escravidão e articulando festivas celebrações e fugas.
“O termo jongo significa, em certo sentido, a balada da boca. As letras, que criticam a opressão, abordam tópicos que não eram compreendidos pelos senhores de escravos, repletas de palavras cifradas que só a comunidade decifrava. Portanto, é inegável que essa prática configura uma forma de resistência”, destaca a professora.
No contexto atual, o Dia de Santana — sincretizada com Nanã nas religiões afro-brasileiras e comemorado em 26 de julho — é também celebrado como o Dia Estadual do Jongo. Reconhecido como patrimônio ancestral do samba e patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo IPHAN, o jongo mantém sua relevância cultural e histórica.
A jongueira Lazir Sinval, que é escritora, compositora e cantora, enfatiza o valor da atuação de Maria Joana Monteiro, conhecida como vovó Maria Joana Rezadeira. Assim como o mestre Darcy, ela dedicou-se à transmissão desse conhecimento para as novas gerações.
“Vovó Maria Joana, reconhecendo a urgência da preservação do jongo, percorreu diversas localidades com seu traje de Ialorixá. Grande parteira, responsável por muitos nascimentos na Serrinha, ela também incentivou as crianças a dançar. Dessa forma, o jongo se tornou amplamente conhecido, acendendo uma fogueira que permitiria sua continuidade”, compartilha Lazir Sinval.
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Imagem Redação
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