A Dualidade da Vida: Reflexões sobre Maturidade e Exposição nas Redes Sociais
A leitura de uma obra como “Batida só”, de Giovana Madalosso, proporciona não apenas prazer, mas também uma profunda inspiração para a escrita. Esta conexão entre autor e leitor é fundamental, levando o escritor a explorar e construir histórias que cativam. Nesse processo, há uma libertação criativa que permite que personagens ganhem vida, proporcionando ao autor a oportunidade de transitar por mundos repletos de emoção e inesperadas surpresas. Contudo, é crucial lembrar que a trajetória do escritor nem sempre é linear. Existe um lado sombrio nessa atividade: a frustração de enfrentar dias em que o fluxo criativo evapora e nenhuma palavra parece boa o suficiente. Essa luta interna pode levar à vontade de desistir, gerando sentimentos de fracasso que ameaçam silenciar a voz criativa.
Considerando o cenário da vida urbana, São Paulo se destaca por sua eficiência. A cidade é um exemplo do comprometimento da população em fazer as coisas funcionarem, refletindo uma seriedade quase palpável. Essa determinação, se por um lado é uma qualidade admirável, também tem seu lado sombrio: a rigidez que pode, em determinados contextos, culminar em um ambiente humoristicamente estéril. O chamado “humor paulista” se torna uma contradição em termos, resultando em um espaço que, embora extremamente produtivo, carece da leveza frequentemente vista em outras culturas.
Em contrapartida, o Rio de Janeiro apresenta um quadro oposto. Na cidade maravilhosa, a beleza exuberante e o humor descontraído criam uma atmosfera vibrante, ainda que marcada por uma certa desorganização. A célebre frase de Tom Jobim resume bem essa dicotomia: “Morar em Nova York é bom, mas é uma merda; morar no Rio é uma merda, mas é bom.” A percepção de que a desordem carioca tem seus encantos se contrapõe à eficiência implacável de cidades como Nova York, onde o politicamente correto e a intolerância à erros tornam o cotidiano mais rígido.
A vida é repleta de nuances. Assim como remédios que, na dose certa, podem curar, na medida errada, podem causar danos. Esse equilíbrio é uma lição vital que nos acompanha em diversas facetas da vida. A maturidade e a experiência adquiridas ao longo dos anos devem ser sinônimos de sabedoria e discernimento, mas nem sempre são. Muitas vezes, vemos pessoas que, apesar da idade avançada, ainda não conseguiram acumular a sabedoria que a vida deve proporcionar, mantendo-se presas a comportamentos imaturos.
Um exemplo alarmante disso é o recente reality show “Casamento às Cegas 50+”, revelador do despreparo emocional e intelectual de muitos participantes. A busca por um relacionamento verdadeiro parece ser ofuscada pela superficialidade e pela falta de compreensão do que realmente significa amadurecer. Ao invés de evidenciar a riqueza da experiência acumulada, muitos demonstram resistência a sair da adolescência emocional, gerando situações que são, no mínimo, constrangedoras. É notório que o verdadeiro valor de um homem se revela na forma como trata as mulheres e se relaciona com elas.
As redes sociais, por sua vez, introduzem outra camada de complexidade nesse cenário. A linha que separa a exposição saudável da vulgarização é tênue e repleta de desafios. O dilema sobre o que compartilhar e o que permanecer oculto pede uma reflexão profunda. No fundo, a escolha se resume a intenções e valores pessoais. Aqueles que buscam validação pessoal através da ostentação nas redes podem acabar se perdendo, enquanto os que optam por compartilhar experiências genuínas tendem a criar conexões mais verdadeiras.
Entretanto, é vale refletir que a busca incessante por aprovação pode, ironicamente, transformar qualidades em defeitos. O ato de proclamar suas próprias virtudes pode parecer, aos olhos alheios, um mero exibicionismo, tornando a apreciação genuína em algo raro. A sutileza do reconhecimento deve vir de forma orgânica, e não forçada.
Como nos ensinou o avô de Arnaldo Jabor: “Calma, Arnaldinho, nada é SÓ bom. Sempre tem outro lado.” Essa filosofia de vida nos lembra que, em meio a tantas nuances, a sabedoria reside em reconhecer a complexidade que envolve cada situação, incluindo o que nos propomos a mostrar ao mundo, seja na vida real ou virtual.
Imagem Redação
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