Fiec e Governo do Ceará Buscam Solução para Curtailment de Energia no Nordeste

A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e o governo cearense estão em negociações com duas empresas para desenvolver um estudo que vise reduzir a interrupção na geração de energia nos parques eólicos e solares da região Nordeste, uma situação conhecida como curtailment. Esta questão representa uma perda significativa, na ordem de bilhões de reais, para os geradores de energia elétrica que operam nesta área, impactando a economia local e a segurança energética do Brasil.

Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, destacou em recente evento que já iniciou conversações com representantes do Estado e está estabelecendo tratativas com um investidor americano e outro europeu. O objetivo dessas conversações é coletar dados que possam indicar uma solução viável para o curtailment, que se tornou um gargalo no setor energético brasileiro.

Durante sua participação no Proenergia 2025, Cavalcante falou sobre a necessidade de desenvolver uma nova linha de transmissão que utilize tecnologia de baterias, minimizando assim o uso das alternativas menos eficientes conhecidas como offgrid. Esse modelo proposto pode revolucionar a maneira como a energia é gerida e distribuída no país, proporcionando mais eficiência e menos desperdício.

Armazenamento de Energia: A Nova Tendência

As baterias têm se tornado uma solução promissora no setor de energia, especialmente quando se considera a geração por usinas eólicas e solares. A geração de energia por essas fontes ocorre de forma intermitente — a solar durante o dia e a eólica variando conforme as condições climáticas. Esse fenômeno resulta em picos de disponibilização de energia que a infraestrutura atual não consegue suportar adequadamente.

Integrar sistemas de armazenamento de energia vai permitir uma injeção mais estável de eletricidade na rede. Esse armazenamento ajudaria a eliminar os riscos de apagões, como o que ocorreu em 2023, garantindo que a energia gerada seja convertida para o Sistema Elétrico Nacional de maneira contínua e sem interrupções.

Cavalcante enfatizou que, com um sistema de bateria, a energia armazenada poderia ser distribuída em volumes constantes para as regiões Sul e Sudeste, atuando como um “backup” eficiente. Essa estratégia não apenas aumentaria a confiabilidade do sistema, mas também contribuiria para a transição para uma matriz energética mais sustentável.

Prazos e Expectativas

Ao ser questionado sobre os prazos para a conclusão do estudo, Cavalcante afirmou que o objetivo é firmar o contrato com a empresa responsável até o final do mês. No entanto, a definição de um cronograma para a apresentação das propostas dependerá da complexidade do trabalho que se seguirá. Com uma viagem programada para Hong Kong em outubro, as expectativas são altas, mas também há um entendimento de que a solução não virá de imediato.

Além disso, durante sua fala no Proenergia, Cavalcante fez um apelo ao Operador Nacional do Sistema (ONS) presente no evento, reiterando a disposição da Fiec em colaborar na busca por soluções que beneficiem a indústria e a população.

Incentivos para Investidores

A iniciativa do governo cearense, segundo Armando Abreu, CEO da Qair Brasil, é uma ação positiva e necessária para encontrar alternativas que solucionem os desafios enfrentados pelo setor. No entanto, ele alertou sobre o tempo considerável que pode ser exigido para a construção das novas linhas de transmissão. Se o Estado conseguir resolver as questões regulatórias em colaboração com o governo federal, seria um grande passo. Contudo, Abreu questionou a viabilidade financeira das empresas diante de possíveis atrasos que poderiam levar de cinco a sete anos.

Abreu também esclareceu que qualquer proposta de solução deverá passar pela análise e aprovação do ONS, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Este processo, que inclui a incorporação das novas soluções no planejamento nacional de expansão e a realização de leilões, pode demorar, em média, de 15 a 20 anos.

Esse cenário fez com que a Qair reconsiderasse seus projetos na região, refletindo um redimensionamento que envolve a pausa na segunda fase do parque solar em Icó e a redução na capacidade de uma usina de hidrogênio verde no Pecém.

A avaliação de Abreu é clara: apenas aqueles que sobreviverem à atual instabilidade do setor estarão preparados para aproveitar as oportunidades futuras. Contudo, ele ressalta que o caminho até lá está repleto de desafios.

Imagem Redação