Fazenda Santa Adelaide: A Revolução dos Legumes Esquecidos em Morungaba (SP)

A Fazenda Santa Adelaide, localizada em Morungaba, a 100 quilômetros da capital paulista, está se destacando ao resgatar e cultivar “legumes esquecidos”. Essa iniciativa apregoa uma verdadeira revolução na produção agrícola, oferecendo ao mercado uma variedade de produtos como berinjela branca, abobrinha amarela, cenoura nas cores roxa, branca e vermelha, além de tomates negro e coração, quiabo vermelho e rabanete-melancia. Tudo isso, com a garantia de que cada item é orgânico e sustentável.

O ex-publicitário francês David Ralitera, que vive no Brasil desde 2006, decidiu mudar radicalmente sua trajetória profissional ao arrendar a fazenda e dedicá-la ao cultivo de alimentos orgânicos. Seu empreendimento hoje abrange 30 hectares e resulta na colheita impressionante de 1,5 tonelada de legumes por semana. Ralitera transformou a paixão por uma alimentação saudável em negócio, e o impacto de sua decisão é notável.

O diferencial da Fazenda Santa Adelaide está na produção de variedades exóticas. Ralitera mantém um portfólio diversificado, cultivando dez legumes da época e explorando também opções mais raras e de difícil obtenção. Ferindo os desafios de encontrar sementes e a necessidade de um manejo específico, esses produtos são vendidos a preços mais elevados, refletindo sua singularidade no mercado.

A curiosidade foi o que levou Ralitera a investigar variedades de legumes pouco conhecidas. Em suas pesquisas, ele utiliza plataformas digitais para conectar-se com produtores de sementes de todo o mundo. Ao iniciar a entrega de cestas de legumes, decidiu incluir os itens exóticos, uma estratégia inteligente para surpreender e fidelizar seus clientes.

Ele observa que do total de mais de 1,5 mil variedades de mandioca que tem acesso, os consumidores ainda se concentram em uma gama limitada de produtos. Segundo Ralitera, “não dá para plantar o mesmo legume todos os meses do ano no mesmo bioma e esperar boa produtividade”. Essa afirmação enfatiza a importância da sustentabilidade e da consciência sobre o que se consome.

Inicialmente, a horta de Ralitera foi criada com a intenção de proporcionar uma alimentação melhor para suas filhas. A experiência se transformou em um negócio que começou com a entrega de cestas para amigos e rapidamente conquistou o mercado paulista, destacando-se pela qualidade e diversidade oferecida.

A certificação orgânica deu um novo impulso ao negócio. Supermercados e cozinhas industriais passaram a se interessar pelos produtos da Fazenda Santa Adelaide, permitindo que Ralitera previsse uma transição para a vida de empreendedor rural, deixando para trás o corporativo e abraçando o sonho de cultivar alimentos.

Em 2012, Ralitera investiu os recursos de sua rescisão contratual para criar a Fazenda Santa Adelaide. Contudo, ele encontrou um mercado de orgânicos ainda imaturo, onde se replicavam erros do setor tradicional. Essa realidade o levou a reconsiderar algumas práticas comerciais para se adaptar à dinâmica do setor.

De acordo com o Instituto Brasil Orgânico, mais de 25 mil propriedades rurais estão envolvidas com a produção orgânica no Brasil, um crescimento substancial de 150% desde 2013, apresentando uma oportunidade promissora em um nicho de mercado em expansão. Ralitera encara um ciclo de desafios, alternando entre entregas diretas e a demanda crescente de restaurantes comprometidos com práticas sustentáveis.

A pandemia trouxe uma mudança significativa no comportamento do consumidor, ampliando a demanda por produtos orgânicos. Contudo, após esse período, o cenário comercial se tornou mais competitivo, com muitos produtores que não respeitam sazonalidades, o que acaba por desafiar a percepção de que os preços dos orgânicos são elevados.

Atualmente, a Fazenda Santa Adelaide fornece produtos para várias redes de supermercados e restaurantes conceituados. A estrutura da fazenda emprega um total de 17 funcionários, dedicados ao plantio, colheita e preparo dos produtos. Essa mão de obra é essencial para suportar a volume de produção.

Para elevar sua prática e diversificar a produção, Ralitera começou a desenvolver geleias e conservas. Ele planeja ainda incorporar o cultivo de culturas de cobertura em rotação, como soja e feijão, visando preservar a qualidade do solo.

Outro aspecto importante da Fazenda Santa Adelaide é seu papel educacional. Ralitera abre as portas da propriedade para alunos da rede municipal de Morungaba, através do projeto “Um Dia na Fazenda”. Essa ação busca ensinar práticas de cultivo e as vantagens de uma alimentação saudável, visando impactar positivamente a juventude local.

Com essas iniciativas, a Fazenda Santa Adelaide não só resgata legumes esquecidos, mas também promove uma conscientização sobre a importância de uma alimentação saudável e sustentável. A história de Ralitera é um testamento de que é possível unir paixão, negócios e responsabilidade social em um único propósito.

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