Oásis de Frutas Nativas: Uma Nova Esperança no Cemitério Green-Wood

Localizado no Brooklyn, o cemitério Green-Wood se revela um espaço surpreendente que, ao lado de lápides, abriga a exuberância das frutas nativas da América do Norte, como o pawpaw e o caqui americano. Estas frutas, raramente vistas em supermercados, crescem em um local onde a serenidade da morte se encontra com a vitalidade da natureza, desafiando as expectativas sobre onde a vida pode prosperar.

Joseph Charap, vice-presidente de horticultura do Green-Wood, descreve o cemitério como um “museu de árvores”, onde a intenção de plantar árvores nativas é parte fundamental da filosofia da instituição. “Mostrar às pessoas que existem árvores frutíferas nativas em nosso ambiente é um passo importante para promover um ecossistema equilibrado”, afirma Charap, destacando a relevância de iniciativas que buscam restaurar a conexão entre o ser humano e a natureza.

O cultivo de frutas nativas, como o pawpaw e o caqui, ganha ainda mais importância em um cenário de eventos climáticos extremos, que têm ameaçado culturas tradicionais como maçãs e pêssegos. Em um mundo onde invernos mais quentes são seguidos por ondas repentinas de frio, a busca por alternativas robustas é necessidade urgente. Essas frutas não apenas resistem a condições climáticas severas, mas também demandam menor uso de água e pesticidas, tornando-se protagonistas em um futuro sustentável, conforme destaca Ben Flanner, cofundador da Brooklyn Grange Rooftop Farm.

Com a crise climática se intensificando, especialistas enfatizam que é fundamental experimentar o cultivo de frutas nativas agora. Muitas delas, como a cereja-da-areia e a arônia, já se adaptaram a climas variados e são cultivadas com sucesso por jardineiros e agricultores. Ben Flanner sugere que a diversificação das plantações com essas frutas poderia ser uma resposta eficaz às condições em mudança do planeta.

O serviceberry, um fruto nativo com um sabor que remete a uma mistura de morango e mirtilo, também se destaca pela versatilidade culinária, sendo utilizado em uma variedade de receitas, desde tortas até geleias. Ao longo dos séculos, os povos nativos americanos incorporaram a fruta em suas tradições alimentares, criando pratos ricos em calorias, essenciais para a sobrevivência.

Outra fruta nativa, a beach plum, que prospera ao longo de praias e dunas de areia, exemplifica a resiliência das espécies nativas. Seu ciclo de florescimento e frutificação, marcado pela polinização vibrante, proporciona uma visão fascinante da adaptação ao ambiente. Flanner compartilha que recebeu recentemente geleia feita dessa fruta, mostrando que, apesar de sua raridade, o interesse por esses cultivos tem crescido.

Mais adentro do Brooklyn, Reza Farzan, um iraniano de 71 anos, é um dos entusiastas do pawpaw. Com mais de 30 anos de experiência cultivando a árvore nativa, Farzan encontrou na fruta uma conexão profunda com a cultura americana, insistindo que o pawpaw é um símbolo da era pré-colonial. Sua jornada começou em 1992, quando decidiu transformar seu quintal em um lar para essa fruta esquecida, que se adapta às condições climáticas da região.

Apesar de sua rara presença nas prateleiras dos mercados, o páprica está lentamente ganhando espaço, evidenciado até por festivais dedicados a ela. No entanto, cultivar essa fruta requer paciência, uma vez que as árvores podem levar até dez anos para frutificar. Farzan, que aprendeu por conta própria as práticas de cultivo, também ensina outros agricultores e jardineiros sobre as nuances dessa frutificação única.

Infelizmente, a durabilidade do pawpaw, que é de apenas três a cinco dias após a colheita, representa um desafio significativo para sua comercialização. Farzan observa que, ao serem danificadas facilmente, essas frutas precisam ser consumidas frescas, o que dificulta sua venda em larga escala. No entanto, sua resiliência diante de adversidades climáticas, incluindo temperaturas extremas e a passagem do furacão Sandy, ilustra a força do cultivo nativo.

Consciente da realidade da mudança climática, Farzan enfatiza a importância de cultivar plantas resistentes. “O pawpaw nos mostra que, mesmo em um ambiente em transformação, ainda podemos encontrar beleza e nutrição”, reflete, enquanto oferece amostras de sorvete caseiro feito com a fruta, revelando seu potencial além do uso convencional.

Embora a transição para o cultivo de alternativas nativas apresente desafios, especialistas sublinham a importância dessa prática como um passo essencial frente aos impactos da mudança climática. Jessica Fanzo, professora de clima na Universidade Columbia, alerta: “Cada centímetro de terra conta para agricultores que dependem de uma cadeia complexa de suprimentos”. A pressão para adaptar-se e inovar nunca foi tão urgente.

No entanto, no meio destas dificuldades, a crescente apreciação por frutas nativas, como o pawpaw, brota no Brooklyn. Farzan sente esperança ao ver mais indivíduos se interessarem por esses cultivos. “Mudar mentalidades pode levar tempo, mas é uma missão necessária”, diz ele, reafirmando sua dedicação em cultivar essa conexão vital entre a terra e as pessoas.

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