Cercamento Digital no Rio de Janeiro: Implicações e Desafios para a Sociedade

Vigilância Urbana: A Nova Realidade do Rio de Janeiro até 2028

A proposta da Prefeitura do Rio de Janeiro de implantar 20 mil câmeras de reconhecimento facial até 2028 levanta preocupações sérias sobre os limites da vigilância urbana. Com essa medida, o prefeito Eduardo Paes afirma que “ninguém entra ou sai da cidade sem ser monitorado”, o que configura a ideia de um cerco digital. Essa mudança promete transformar o Rio em um ambiente altamente monitorado, suscetível a intensas discussões sobre privacidade e liberdade individual.

Anunciado como parte do projeto CIVITAS (Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia em Apoio à Segurança Pública), essa iniciativa visa reforçar a segurança na cidade. Embora a segurança pública seja uma prioridade importante, é fundamental que a busca por ela não comprometa os direitos fundamentais dos cidadãos, como a privacidade e a liberdade de movimento. A ansiedade em torno da segurança não pode eclipsar uma análise crítica dos métodos utilizados para alcançá-la.

As novas câmeras serão distribuídas em locais estratégicos e em áreas com grande tráfego, com o objetivo de eliminar pontos cegos. Estrategicamente posicionadas, 56 delas estarão localizadas nos limites da cidade, com tecnologia capaz de detectar comportamentos suspeitos, reconhecer rostos e veículos, além de gerar mapas de calor. Batizada de “Íris”, a inteligência artificial desenhada para essas câmeras tem o potencial de revolucionar a abordagem da segurança pública no Rio de Janeiro, ainda que levante questões cruciais sobre a definição de “suspeito”.

Um dos pontos mais críticos dessa discussão é a falta de clareza em relação ao que constitui uma “atitude suspeita”. Essa dúvida é particularmente pertinente no contexto de um Brasil com um histórico de marginalização de grupos específicos, especialmente pessoas negras e aquelas em situação de vulnerabilidade social. A ausência de critérios rigorosos pode resultar em uma criminalização ainda mais acentuada, aumentando o risco de discriminação.

Além disso, o silêncio do prefeito Eduardo Paes sobre os vieses discriminatórios associados ao reconhecimento facial é alarmante. Embora promova o sistema como um avanço tecnológico, é essencial lembrar que, em diversas partes do Brasil, houve múltiplos casos de identificação errônea envolvendo pessoas negras. A pergunta que permanece é: o que garante que as falhas observadas em outros locais não ocorrerão com a tecnologia “Íris”? Um estudo da Rede de Observatórios de Segurança destaca que cerca de 90% das pessoas equivocadamente detidas em operações de reconhecimento facial no Brasil são negras, acentuando a preocupação com um padrão de criminalização seletiva.

Ademais, a naturalização da vigilância crescente na sociedade se torna um tema preocupante. Desde reality shows até a monitoração em eventos massivos, a população gradualmente se acostuma a esses dispositivos que coletam dados pessoais. Essa aceitação sem uma análise crítica pode levar a uma diminuição da percepção dos riscos envolvidos, dificultando qualquer tipo de resistência que proteja a privacidade individual.

Casos de erros de identificação, como o do torcedor João Antônio, que foi algemado por engano em um estádio, expõem os perigos da vigilância em massa. O pedido de desculpas do governador de Sergipe na ocasião, considerando um “erro da tecnologia”, é um alívio insuficiente diante dos danos causados. Estudos têm revelado que esses incidentes não devem ser considerados meros “acidentes”, mas sintomas de um sistema que perpetua a discriminação.

O reconhecimento facial tem se revelado problemático não apenas no Brasil, mas também em outras partes do mundo. Pesquisas realizadas pelo National Institute of Standards and Technology nos Estados Unidos e pela University of Essex no Reino Unido mostraram taxas de erro significativamente mais altas nesses sistemas para pessoas não brancas.

À medida que a corrida por segurança avança, é alarmante observar que muitos governos continuam a implementar tecnologias sem comprovação de eficácia. Um levantamento realizado pelo projeto Panóptico estima que mais de 87 milhões de brasileiros estejam sob vigilância. A experiência, por exemplo, da Prefeitura de São Paulo com o sistema Smart Sampa não confirmou os benefícios esperados em relação às taxas de criminalidade.

Com este cenário, cresce o apoio a campanhas que defendem o banimento do reconhecimento facial. Iniciativas como “Ban The Scan” e “Tire Meu Rosto da Sua Mira” argumentam que, independentemente das salvaguardas ofertadas, o monitoramento em massa é uma violação dos direitos humanos. A urgência de um diálogo aberto e transparente sobre a implementação dessas tecnologias emerge como uma necessidade inadiável.

Estudos também ressaltam que os prejuízos associados ao reconhecimento facial superam qualquer benefício potencial. A tecnologia pode privar cidadãos de seu anonimato, reforçando dinâmicas de poder históricas que prejudicam a população em suas interações com a polícia.

Na contramão desse movimento, a União Europeia tem tomado medidas para garantir um uso mais responsável da inteligência artificial, criando legislação que limita a utilização de reconhecimento facial pela polícia em espaços públicos. Essa abordagem cautelosa pode servir de modelo para o Brasil.

À luz desse contexto, é crucial que a sociedade civil brasileira se engaje ativamente no debate sobre vigilância e proteção de dados, assegurando que estas discussões sejam amplas e inclusivas. O Rio de Janeiro, e o Brasil em geral, precisam de um debate profundo sobre as implicações das tecnologias de vigilância para evitar que a busca por segurança se transforme em um estado de vigilância contínua que infrinja direitos humanos essenciais.


Imagem Redação

Abilenio Sued

Profissional da imprensa brasileira, mergulho em palavras para levar você a cenários profundos, garantindo à informação precisa e relevante. Com uma carreira consolidada a mais de 30 anos, atuei de forma ininterruptível em 49 das 57 funções que compõem a minha profissão. Minha trajetória une o compromisso com a verdade da notícia, criação de artigos com objetivo de resolver problemas dos nossos usuários, sem deixar de lado, a criatividade no entretenimento, e, cultivando parcerias no campo profissional. Como repórter, desenvolvi expertise em apuração de matéria investigativa, aprimorei a habilidade de manter o público bem informado com à verdade, e, como narrador de assuntos, cultivo a técnica de informar de maneira impactante. Primeiro contrato de trabalho em CTPS foi na Rádio Região Industrial Ltda (Metropolitana AM 1050 kHz) a partir do dia 1º de novembro de 1995, com duração de 13 anos, atualmente, o grupo opera a Mix FM na frequência FM em Salvador, Bahia, Brasil. Passando por outras emissoras, Rádio Líder FM, primeiro repórter da Rádio Sucesso FM, Band News FM, primeiro repórter policial do Camaçari Notícias (cn1), Camaçari Fatos e Fotos, Jornal Impresso (É Notícia), repórter TV Litorânea (a cabo), TV Bandeirantes (Band Bahia), dentre outras emissoras em freelancer período carnaval. A vasta experiência inspirou a criação deste veículo de comunicação, onde a informação se expande com credibilidade, dinamismo, na velocidade da notícia, local, estadual, nacional e mundial. Fique bem informado — aqui... | Abilenio Sued | Repórter | Registro Profissional.: MTE 3.930/6.885 SRTE/BA-BR | Editor-Chefe | abilenio.com | 30 Anos News | Traduzido De Acordo Com O País De Acesso Mesmo Para Aqueles Idiomas Vulneráveis À Extinção | Publicado Para O Mundo...

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