Estudo Revela Possível Sincronização Entre Ciclos Menstruais e Fases Lunares
Durante séculos, a ligação entre os corpos das mulheres e as fases da Lua intrigou poetas, curandeiros e cientistas. O ciclo lunar, que dura em média 29,5 dias de uma lua cheia à próxima, apresenta uma semelhança peculiar com o ciclo menstrual, que também se aproxima dessa duração. Entretanto, a ciência sempre esteve dividida: alguns defendem uma conexão entre esses fenômenos, enquanto outros desconfiam que se trata apenas de uma crença ancorada na astrologia.
Essa questão não é desprovida de evidências. Animais, como peixes, corais e até certas raças de vacas, adaptaram seus ciclos reprodutivos às fases lunares, buscando aumentar suas chances de reprodução. Os primatas, como os macacos, também demonstram períodos de maior fertilidade relacionados ao ciclo lunar, com a Lua nova proporcionando proteção contra predadores e as fases mais iluminadas favorecendo outros comportamentos.
Um estudo recente liderado pela neurobióloga Charlotte Helfrich-Förster, da Universidade de Würzburg, na Alemanha, trouxe nova luz sobre o tema e reabriu o debate sobre os efeitos da Lua sobre os ciclos menstruais das mulheres. Publicada na prestigiosa Science Advances, a pesquisa analisou mais de 11.500 registros menstruais de 176 participantes, abrangendo períodos que vão de poucos meses até várias décadas.
As descobertas indicam que, antes de 2010, muitas mulheres exibiam uma sincronia parcial entre seu ciclo menstrual e as fases lunares. No entanto, essa conexão parece ter diminuído drasticamente nos últimos anos. Helfrich-Förster sugere que essa mudança não se deve necessariamente à influência da Lua, mas a fatores como o aumento da exposição a luzes artificiais. A pesquisadora destaca que as fontes de luz branca e azul, como LEDs e telas eletrônicas, podem interferir nas regularidades naturais do corpo, alterando não apenas o sono, mas também ritmos reprodutivos.
A neurobióloga, ao comparar dados anteriores e posteriores a 2010, apontou a rápida substituição das lâmpadas tradicionais por LEDs como um possível fator disruptivo. Estudos anteriores demonstraram que a iluminação artificial à noite pode desregular o sono e comprometer a produção de melatonina, afetando diretamente a saúde hormonal.
A pesquisa evidencia que a exposição à luz artificial está correlacionada com insônia, alterações hormonais e uma possível diminuição da fertilidade entre as mulheres. Tais fatores revelam a necessidade de um melhor entendimento sobre como a modernidade e suas inovações afetam os ritmos naturais que moldaram o corpo humano ao longo de milênios.
A análise de Helfrich-Förster recontextualiza décadas de evidências contraditórias. Pesquisas das décadas de 1960 e 1970 sugeriam que ciclos menstruais alinhados com 29,5 dias frequentemente coincidiam com a Lua cheia ou nova. No entanto, essas descobertas não foram reproduzidas em estudos subsequentes, até que a pesquisadora revisasse dados históricos.
Com um banco de dados que abrange registros de até 37 anos, a equipe identificou períodos em que os primeiros dias de menstruação coincidiam com as fases lunares em quase todas as participantes. Essa sincronia, no entanto, se mostrou temporária e dependente do comprimento do ciclo menstrual. Mulheres com ciclos mais curtos apresentaram menor propensão a alinhar suas menstruações às fases lunares.
O estudo também revelou diferenças regionais: mulheres de países como Itália e Israel, onde a poluição luminosa é alta, mostraram menor tendência à sincronia lunar. Isso reforça a hipótese de que a iluminação artificial pode impactar o ciclo menstrual de forma adversa.
O efeito gravitacional da Lua, embora significativo em fenômenos como as marés, não parece influenciar diretamente o corpo humano, levanta questões interessantes sobre a conexão entre o ambiente e a saúde feminina. O que resta é investigar se a luz artificial realmente quebrou um elo biológico ancestral.
Nos próximos passos, a equipe de Helfrich-Förster planeja comparar dados de mulheres em áreas urbanas e rurais, em diferentes hemisférios. Essa pesquisa poderá proporcionar uma visão mais clara sobre a persistência da sincronia lunar em ambientes de menor exposição à luz artificial.
As implicações de suas descobertas vão além do ciclo menstrual. A luz artificial tem efeitos demonstrados no sono, metabolismo e saúde mental. Helfrich-Förster observa que a redução do tempo de sono e o impacto no relógio circadiano são desafios contemporâneos que precisam ser enfrentados. Ela especula que o excesso de luz noturna pode ser um dos fatores que contribuem para o crescente declínio da fertilidade.
Embora o mistério da relação entre os ciclos menstruais e as fases lunares permaneça em aberto, a neurobióloga recomenda cautela para não superestimar seus achados. A evidência sugere uma correlação temporária, mas mais estudos são necessários para entender a real importância dessa sincronia em um contexto contemporâneo. Ajustar nossa exposição à luz artificial pode ser um caminho para restaurar conexões perdidas com ritmos naturais, promovendo saúde e bem-estar.
Imagem Redação
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