Queda de 4,4% na Economia de Caxias do Sul Destaca Desafios Industriais
A economia de Caxias do Sul enfrenta um momento crítico, com um drástico recuo de 4,4% em agosto de 2025 em relação ao mês anterior, conforme revelado por dados recentes da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL). Este declínio é substancialmente influenciado pela retração de 8,5% na indústria local, enquanto os setores de serviços e comércio apresentaram variações sutis, marcando altas de 0,4% e 0,2% respectivamente.
Comparando agosto de 2024 com o mesmo mês deste ano, a economia local demonstrou uma queda ainda mais acentuada de 4,5%. O setor industrial foi o maior responsável por esse resultado, com um retrocesso de 14,7% no período. Em contraste, os serviços e o comércio mostraram crescimento, com aumentos de 7,6% e 6,2%.
No acumulado anual, Caxias do Sul revela uma leve recessão de 0,2%. Desde o início do ano até agosto, a indústria registrou uma queda acumulada de 5,8%, enquanto os setores de serviços e comércio mantiveram um desempenho positivo, com crescimentos de 8% e 2,8%.
Em uma análise mais focada nos últimos 12 meses, a economia caxiense ainda apresenta uma ligeira melhora de 1,8%, impulsionada pelo setor de serviços, que cresceu 9,8%, e pelo comércio, que teve uma alta de 1,2%. Entretanto, a indústria apresenta um cenário preocupante, apresentando um retrocesso de 2,4% no mesmo período.
Ruben Bisi, vice-presidente de Indústria da CIC Caxias, aponta que a queda no desempenho industrial está diretamente relacionada à desaceleração do mercado de caminhões pesados e implementos rodoviários, fundamentais na matriz econômica da cidade. Essa particularidade torna a economia local vulnerável a oscilações no setor, intensificadas pelo alto custo do crédito e taxas de juros elevadas.
O impacto dessa desaceleração é visível, uma vez que, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de caminhões pesados caíram 22% em agosto, se comparadas ao mesmo mês do ano anterior.
No panorama industrial, todos os principais indicadores mostraram resultados negativos em agosto. A compra de insumos caiu 21,7%, as vendas recuaram 8,3% e a massa salarial diminuiu em 3,1%. A utilização da capacidade instalada também foi afetada, caindo 1,1%.
Tarciano Mélo Cardoso, diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias, destaca uma redução gradual no ritmo de crescimento da economia local. Os números indicam que, após um crescimento robusto com alta de 6,6% em dezembro de 2024, o crescimento foi diminuindo para 1,8% em agosto. Essa desaceleração é atribuída a uma série de fatores internos e externos, como os altos juros e a incerteza fiscal, que estão minando a confiança no mercado.
Ainda segundo Cardoso, os problemas enfrentados em Caxias não se limitam ao município, mas são exacerbados por sua estrutura industrial. Fatores como crédito caro e a baixa demanda continuam a impactar a cidade, particularmente porque o local é conhecido por seu forte papel na indústria de bens de capital.
Em meio a esse cenário, o setor de serviços continua a mostrar um desempenho positivo, com um crescimento de 9,8% nos últimos 12 meses. O comércio, por sua vez, mantém-se praticamente estável, com uma alta de 1,2%.
No que diz respeito ao mercado de trabalho formal, a situação foi desfavorável em agosto, com a perda de 67 vagas formais. A indústria perdeu 524 postos de trabalho, enquanto o setor de serviços gerou 376 novas vagas. A construção civil e a agricultura também contribuíram com a criação de 60 e 27 novas vagas, respectivamente.
A balança comercial apresenta resultados mistos. As exportações mantiveram-se estáveis, enquanto as importações diminuíram em 24% em agosto. No entanto, houve um crescimento considerável de 39,3% no saldo da balança comercial em relação ao mês anterior, acumulando um aumento de 66,4% em 12 meses, totalizando US$ 793 milhões em exportações.
A Argentina reafirmou sua posição como o principal destino dos produtos caxienses, representando 25% das vendas, seguida pelo Chile e pelos Estados Unidos, que compõem 17% e 16%, respectivamente.
Em uma análise mais profunda do comércio, a segmentação dos mercados revela que as categorias de produtos de maior valor agregado enfrentam desafios crescentes. Entre julho e agosto, o segmento de material de construção registrou uma queda de 8,27%. Em contraste, setores como vestuário e calçados mostraram resiliência e cresceram 9,90%.
Mosár Leandro Ness, assessor de Economia e Estatística da CDL Caxias, caracteriza o mês como um reflexo das incertezas econômicas, com um comportamento divergente entre os setores duro e mole. Itens de maior valor agregado, que tendem a ser mais suscetíveis ao crédito, continuam a enfrentar desafios significativos.
À medida que Caxias do Sul navega nesse cenário desafiador, a atenção deve ser voltada para a necessidade de adaptações estruturais que possam reverter a trajetória atual e sustentar o crescimento sustentado da economia local.
Imagem Redação
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