Inovação em Identificação de Vítimas: Como a Inteligência Artificial Transforma a Odontologia Forense no Brasil
A popularidade das séries policiais, em especial a norte-americana CSI: Crime Scene Investigation, ressalta a curiosidade do público sobre o campo da perícia criminal. No entanto, a vanguarda da ciência forense vai além da ficção. No Brasil, o professor e pesquisador Ademir Franco, com sua trajetória internacional em odontologia forense, está na linha de frente de uma revolução que combina tecnologia e metodologia científica. Atualmente atuando na faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, Franco tem aplicado inteligência artificial para aprimorar a identificação de vítimas de crimes.
Franco compartilhou insights sobre como a odontologia forense, frequentemente associada à identificação de vítimas através de registros dentários, está se reformulando por meio da tecnologia. Segundo o especialista, a evolução das técnicas de perícia tem encantado tanto estudantes quanto profissionais da área. Ele destaca que muitos alunos se interessam pelo tema após assistirem a dramatizações em séries, especialmente no que diz respeito à identificação de corpos por meio de características dentais.
A aplicação da inteligência artificial em seu trabalho se desdobra em duas abordagens distintas, mas igualmente relevantes: o método comparativo e o reconstrutivo. No primeiro, dados coletados durante a necropsia são confrontados com informações da pessoa em vida. No método reconstrutivo, características biológicas são analisadas, como idade e sexo, por exemplo, visando criar um perfil do falecido. Franco explica que, desde 2020, sua equipe começou a incorporar ferramentas de inteligência artificial, tornando-se pioneiros na odontologia forense brasileira ao aplicar algoritmos em radiografias.
Essa pesquisa utilizou uma vasta base de dados, compilando 13 mil radiografias de brasileiros, o que possibilitou treinar algoritmos para identificar características específicas a partir das imagens. Esse importante desenvolvimento contou com a colaboração de engenheiros no campo da tecnologia, que proporcionaram o suporte necessário para traduzir as necessidades da odontologia forense em soluções práticas e automatizadas.
Os resultados iniciais dessa combinação de odontologia e tecnologia foram promissores. Entre 2020 e 2021, a taxa de acurácia das análises alcançou entre 75% e 80%, um número que, embora considerável, traz desafios no campo forense. Contudo, o refinamento contínuo das técnicas permitiu que, atualmente, a precisão chegue a 93% para homens e 89% para mulheres. Franco enfatiza a importância de um estudo recente publicado na revista Scientific Reports, que analisou a capacidade de determinar se um indivíduo é maior ou menor de idade através de radiografias, uma questão crucial no Brasil.
A aplicação da inteligência artificial não se limita ao trabalho com vítimas fatais; ela também é uma ferramenta poderosa em situações envolvendo pessoas vivas. Franco recorda sua experiência na Bélgica, onde a metodologia foi utilizada para determinar a idade de requerentes de asilo. Essa prática é vital, pois a identificação correta pode influenciar diretamente o processo legal e humanitário enfrentado por imigrantes.
Além de suas aplicações no contexto criminal, a tecnologia pode ser aplicada em auditorias odontológicas, onde a IA serve como um mecanismo de detecção de fraudes em planos de saúde. A capacidade de verificar se uma radiografia correspondia ao paciente alegado pode prevenir atos questionáveis, assegurando a integridade do sistema.
Durante desastres em massa, como atentados ou deslizamentos, a necessidade de identificação rápida e precisa das vítimas se torna ainda mais crítica. Franco participou da identificação das vítimas do atentado a Brusselas em 2016, onde ferramentas de reconstrução facial forense desempenharam um papel significativo. Ele ressalta que, em situações onde muitos corpos estão disponíveis, ter informações como idade e sexo ajuda a restringir drasticamente as possibilidades, economizando tempo e recursos em operações de identificação.
Com essas inovações, o uso da inteligência artificial na odontologia forense não apenas reformula o campo, mas também destaca a importância de um alinhamento entre a ciência e a justiça. A urgência na melhoria das metodologias existentes é evidente, e a contribuição de Franco e sua equipe promete elevar os padrões de identificação de vítimas no Brasil e além.
Imagem Redação
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