Cultura: Um Direito Humano Que Requer Urgência em Seu Acesso
Recentemente, um simples momento em uma cafeteria se transformou em um reflexo poderoso da situação atual do acesso à cultura. Durante o lançamento de um livro, um garçom que atendia aos convidados se destacou ao expressar seu interesse pelo tema abordado na obra. Ele desejou adquirir o livro e, após receber um autógrafo, compartilhou a alegria da conversa sobre literatura. Embora essa interação deva ser comum, o fato de que isso ainda cause surpresa evidencia a luta contínua pelo acesso à cultura em diversas camadas da sociedade.
Infelizmente, o cenário cultural que vivemos revela uma realidade alarmante. O acesso à cultura, manifestado em diversas formas, como literatura, música, teatro e artes visuais, deveria ser uma oferta universal, acessível a todos. Contudo, essa meta ainda parece distante, especialmente para as gerações que não receberam estímulos culturais durante a infância ou adolescência. Ao mesmo tempo, muitas pessoas de classes média e alta se afastam da cultura simplesmente por falta de interesse, desconhecendo o valor transformador que ela pode oferecer.
O jovem garçom, que se encantou pela literatura, ilustra bem essa dualidade. Embora a promoção do acesso à cultura seja essencial, não se pode forçar o gosto por ela. É necessário um entendimento mais profundo sobre o papel da cultura na formação dos indivíduos e da sociedade como um todo. A valorização da cultura deve ir além das aulas de arte ou literatura; ela deve se enraizar no reconhecimento de que a cultura é uma ferramenta poderosa para a construção da identidade e reflexão crítica.
A relevância da cultura também está solidamente fundamentada na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Brasileira, que reconhecem a cultura como um direito humano indispensável. O acesso à cultura não apenas enriquece a vida de um povo, mas também impulsiona o desenvolvimento socioeconômico de um país. Quanto mais aberto e acessível for o cenário cultural, mais as pessoas se sentirão pertencentes à sua identidade nacional e mais se expandirá o pensamento crítico na sociedade.
A resistência à democratização do acesso à cultura torna-se ainda mais evidente em contextos políticos conservadores, onde, paradoxalmente, o crescimento psicológico e social gerado pela cultura é temido. Reduções de investimentos na área cultural, como as que vimos na gestão do ex-presidente Bolsonaro, apenas evidenciam o desprezo por essa dimensão social. O fechamento do Ministério da Cultura em seu primeiro dia de governo em 2019 foi um dos muitos sinais de que a promoção cultural não era prioritária.
Há alguns anos, viralizou nas redes sociais um vídeo de um homem em situação de rua que havia lido mais de 200 livros recebidos de transeuntes. Ele aproveitou a oportunidade de conhecer diferentes mundos e ideias, enquanto muitos outros, em posição de privilégio, acumulam livros como meros objetos decorativos, sem a intenção de lê-los. Essa contradição revela a disparidade de acesso à literatura e à arte em geral, uma questão que deve ser urgentemente abordada.
Em um mundo repleto de contradições, onde a desigualdade social se traduz em barreiras culturais, mais do que nunca precisamos incentivar a leitura, as artes cênicas e as exposições que instigam reflexão. Pressionar por mudanças reais e efetivas é fundamental para garantir que o que deveria ser um direito universal não se torne uma exceção. Precisamos lutar para que a cultura seja parte fundamental da vida de todos, e não um privilégio de poucos.
A batalha pelo acesso à cultura é uma luta por dignidade e crescimento. Somente quando conseguirmos tornar a cultura verdadeiramente acessível e desejada por todos podemos aspirar a um futuro mais justo e igualitário. E assim, o simples ato de um garçom se interessar por um livro pode se tornar um símbolo de esperança em um panorama muito mais amplo.
Ao refletirmos sobre esses desafios, que possamos nos unir na busca pela democratização da cultura, promovendo um mundo onde todos possam usufruir de suas múltiplas expressões e se sentir parte de um todo mais rico e vibrante.
Imagem Redação
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