Uso de Inteligência Artificial por Professores no Brasil Aumenta Acima da Média Global
SÃO PAULO – Uma recente pesquisa da OCDE, divulgada pela Talis (Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem), revela um dado surpreendente: 56% dos professores brasileiros utilizam ferramentas de inteligência artificial em suas atividades. Esse percentual supera significativamente a média de 36% observada entre educadores dos países membros da OCDE, destacando o Brasil como um dos pioneiros no uso dessa tecnologia na educação.
A pesquisa Talis, reconhecida como uma das mais abrangentes sobre a condição de trabalho de professores e diretores escolares, é realizada desde 2008 e possibilita comparações internacionais. Na edição de 2024, 53 países e regiões foram analisados por meio de entrevistas com mais de 280 mil professores do ensino fundamental e diretores de 17 mil escolas. Os dados não apenas evidenciam o uso crescente de IA, mas também colocam o Brasil como o 9º país com a maior proporção de educadores que incorporam tais ferramentas em suas rotinas.
Países como Emirados Árabes, Singapura e Nova Zelândia estão na vanguarda, com mais de 75% de seus docentes utilizando inteligência artificial. Em contraste, França, Japão e Bélgica – com resultados educacionais considerados excelentes – apresentam índices de apenas 20% de uso dessas tecnologias. Essa dicotomia levanta questões relevantes sobre como a adoção de IA pode influenciar a qualidade do ensino.
O levantamento definiu que o conceito de inteligência artificial abrange não apenas modelos generativos, como o ChatGPT, mas também ferramentas voltadas para reconhecimento de fala, análise de aprendizado e gerenciamento de dados. Essa ampla definição permite uma compreensão mais profunda de como a IA está se integrando ao cotidiano escolar.
Embora o uso da inteligência artificial esteja se expandindo rapidamente, as implicações dessa ferramenta na educação ainda são incertas, tanto em curto quanto em longo prazo. O relatório ressalta a importância de discutir como a IA pode ser utilizada de forma eficaz no ambiente escolar, a fim de maximizar benefícios e minimizar riscos.
Dos professores que adotam essas tecnologias, 77% relatam utilizá-las para gerar planos de aula ou atividades, e 64% as empregam para adaptar materiais às necessidades dos alunos. No entanto, a análise de desempenho dos alunos (42%) e a correção de tarefas (36%) são menos frequentes. Esse cenário sugere que, embora os educadores estejam se familiarizando com essas ferramentas, há uma resistência ou dificuldade em integrar a IA em processos avaliativos mais complexos.
Por outro lado, muitos professores que não utilizam inteligência artificial apontam a falta de conhecimento e a infraestrutura insuficiente de suas escolas como principais barreiras. O relatório ainda aponta um aumento na expectativa por tecnologias inovadoras, especialmente após a pandemia, com 33% dos educadores se sentindo sobrecarregados com essa transição.
Além disso, 75% dos docentes relataram não possuir as habilidades necessárias para ensinar utilizando inteligência artificial. Também, um terço dos educadores discorda da incorporação desse tipo de tecnologia no ensino. Permissões institucionais variam, e apenas 17% dos professores brasileiros afirmam que suas escolas proíbem o uso de IA, enquanto 38% são contrários a sua utilização nas aulas.
Os educadores expressam preocupações legítimas sobre o uso da IA nas escolas, citando riscos como o plágio por parte dos alunos, a amplificação de estereótipos e equívocos, além de possíveis ameaças à privacidade e segurança dos dados dos estudantes. As discussões entorno da ética no uso da inteligência artificial no ambiente escolar se tornam, portanto, indispensáveis à medida que essa tecnologia se torna parte integrante da experiência educacional.
Imagem Redação
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