A Influência dos Legados Coloniais na Formação do Bolsonarismo

A Urgência da Soberania: Desvendando a Colonialidade Afetiva na Política Brasileira

A atual cena política do Brasil carrega uma complexidade intrigante: em momentos de crise, parece haver uma necessidade crescente de buscar amparo em vozes estrangeiras. O que deveria ser uma construção interna e autêntica da democracia muitas vezes é substituído por um apelo a vozes externas que apontam o que é válido ou não, exacerbando a sensação de dependência e afastando a soberania do nosso país.

Essa busca por um “pai” externo, que comande, oriente e, por vezes, penalize, não se trata apenas de uma estratégia política. Ela reflete um desejo profundo de tutela que cria um ambiente propício à ideia de que a verdadeira legitimidade e ordem política derivam do exterior. Assim, a dependência se converte em uma virtude política, evidenciada por uma acentuada aceitação das sanções e críticas internacionais como um ritual de obediência e submissão.

Neste sentido, a noção de “colonialidade afetiva” emerge como uma categoria essencial para entendermos essa dinâmica. O conceito vai além da mera subserviência: trata-se de uma economia emocional que reorganiza o cenário político brasileiro em torno da renúncia, não apenas à autonomia, mas também ao conflito e ao diálogo interno. Essa renúncia gera consequências profundas, necessitando de uma reflexão crítica sobre o que realmente resta de nosso sentido soberano.

Para compreender a resposta entusiástica de setores bolsonaristas às sanções e críticas estrangeiras, é pertinente considerar como os Estados Unidos são idealizados como um modelo civilizacional. Essa ideia não se articula exclusivamente no domínio da razão, mas reside nas composições emocionais, gerando uma identificação vertical que posiciona o Brasil como um “filho menor” de uma ordem superior. Essa relação vertical, marcada por um desejo de validação externa, se transforma em um laço sacrificial no qual o poder estrangeiro se sente autorizado a distinguir o bem do mal, inundando a política interna com uma dicotomia simplista.

O resultado é um duplo deslocamento: a autoridade é exportada, e a autoimagem se organiza em torno de padrões externos, autorizando a construção de uma identidade nacional com base em espelhos distorcidos, enquanto a diversidade rica e plural do Brasil se torna irrelevante. A identificação com uma potência imperial não é nova, mas a colonialidade afetiva, como conceito, traz à tona o desejo de pertencimento e a realidade do ressentimento nacional, sinalizando uma profunda crise de identidade.

Reforçando essa realidade, a obediência ao “pai” externo assume uma dimensão quase ritualística. O que poderia ser um processo autêntico de construção de poder interno transita para um elaborado ato de autoalienação. Essa dinâmica reflete um desejo intrínseco de se fundir com o ideal de sucesso representado pelos Estados Unidos, que aparece como uma figura escatológica de futuro, onde a nação americana simboliza não apenas poder, mas a narrativa que muitos buscam em seus próprios reflexos.

Entretanto, esse desejo de imitar um modelo exterior não é isento de custos. Este movimento implica uma abdicação simbólica da diversidade que caracteriza o Brasil, em troca de uma filiação imaginária que se afigura como universal, mas que na prática se revela hierárquica e excludente. Este fenômeno suscita o questionamento sobre até que ponto aceitamos a imposição de um modelo que não considera a riqueza das diferenças culturais e históricas do Brasil.

Portanto, ao celebrarmos a aceitação de modelos autoritários externos, especialmente quando eles se voltam contra instituições nacionais, revelamos uma postura que superou o simples dissenso político. Essa atitude se transforma numa autoanulação do Brasil como um espaço verdadeiro de enunciação política, onde o país se converte em um simulacro dependente da aprovação externa para sua validade.

Isto se revela de forma aguda no bolsonarismo, cuja estrutura discursiva é permeada por símbolos e rituais que ressoam fortemente com valores norte-americanos. O culto à figura de Trump, longe de ser mera idolatria, expõe a vulnerabilidade de uma consciência política que opta por abdicar de sua capacidade de gerar verdade e autoridade. O resultado final é uma subjetividade colonizada, na qual o desejo de redenção e aprovação externa Bordea o cotidiano político.

Assim, a urgência de retomar a soberania brasileira se torna um desafio apenas mais complexo à medida que o Brasil se encontra em um processo de autoexílio em busca de modelos externos. Na medida em que permanecemos na expectativa de que a salvação chegue de fora, arrogando-nos ao papel de meros atores secundários na narrativa de uma história que nos ultrapassa, perdemos a narrativa de nossa própria identidade.

Em um momento em que a política se transforma em um campo de batalha simbólico e afetivo, é imperativo que comecemos a reconfigurar essa relação de dominação e miséria afetiva. O desejo de construir uma nova soberania brasileira, fundamentada na autonomia e nas riquezas de nossa diversidade, deve ser um compromisso prioritário a ser revisitado. A construção de um futuro autêntico e independente requer um esforço coletivo, iluminado por um entendimento mais profundo de nós mesmos e das nossas potencialidades.

A hora de reverter essa corrente é agora. Precisamos agir, desconstruindo a narrativa colonial que persiste em nos aprisionar em padrões alheios. É hora de sair da sombra, redescobrir o poder intrínseco de nossa identidade e construir um novo capítulo na história do Brasil.


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Abilenio Sued

Profissional da imprensa brasileira, mergulho em palavras para levar você a cenários profundos, garantindo à informação precisa e relevante. Com uma carreira consolidada a mais de 30 anos, atuei de forma ininterruptível em 49 das 57 funções que compõem a minha profissão. Minha trajetória une o compromisso com a verdade da notícia, criação de artigos com objetivo de resolver problemas dos nossos usuários, sem deixar de lado, a criatividade no entretenimento, e, cultivando parcerias no campo profissional. Como repórter, desenvolvi expertise em apuração de matéria investigativa, aprimorei a habilidade de manter o público bem informado com à verdade, e, como narrador de assuntos, cultivo a técnica de informar de maneira impactante. Primeiro contrato de trabalho em CTPS foi na Rádio Região Industrial Ltda (Metropolitana AM 1050 kHz) a partir do dia 1º de novembro de 1995, com duração de 13 anos, atualmente, o grupo opera a Mix FM na frequência FM em Salvador, Bahia, Brasil. Passando por outras emissoras, Rádio Líder FM, primeiro repórter da Rádio Sucesso FM, Band News FM, primeiro repórter policial do Camaçari Notícias (cn1), Camaçari Fatos e Fotos, Jornal Impresso (É Notícia), repórter TV Litorânea (a cabo), TV Bandeirantes (Band Bahia), dentre outras emissoras em freelancer período carnaval. A vasta experiência inspirou a criação deste veículo de comunicação, onde a informação se expande com credibilidade, dinamismo, na velocidade da notícia, local, estadual, nacional e mundial. Fique bem informado — aqui... | Abilenio Sued | Repórter | Registro Profissional.: MTE 3.930/6.885 SRTE/BA-BR | Editor-Chefe | abilenio.com | 30 Anos News | Traduzido De Acordo Com O País De Acesso Mesmo Para Aqueles Idiomas Vulneráveis À Extinção | Publicado Para O Mundo...

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