Estudo Revela Contribuição de Empresas para Ondas de Calor no Século XXI
Uma nova pesquisa publicada na renomada revista científica Nature examina a influência da mudança climática na frequência e intensidade de eventos extremos, com um foco especial nas ondas de calor. O estudo não apenas confirma a relação entre emissões de gases de efeito estufa e o aquecimento global, mas também identifica diretamente empresas e entidades que têm contribuído para a gravidade dessas crises climáticas.
O estudo destaca que grandes emissoras, incluindo corporações brasileiras como Petrobras e Vale, ocupam posições proeminentes na lista de responsáveis pelas emissões de carbono. Este relatório marca um passo significativo em direção à responsabilização por danos ambientais, um conceito que vem ganhando força nas discussões sobre mudança climática.
As evidências mostram que, de 2000 a 2009, as ondas de calor se tornaram 20 vezes mais frequentes, enquanto, de 2010 a 2019, esse número aumentou para 200 vezes. Esse fenômeno é diretamente associado às emissões relacionadas à produção de petróleo, gás, carvão e cimento.
Analisando 213 ondas de calor registradas entre 2000 e 2023, o estudo ilustra a contribuição específica de 180 das maiores emissoras do mundo. O grupo, conhecido como “carbon majors”, é responsável por metade do aumento da intensidade das ondas de calor desde a era pré-industrial, reafirmando a gravidade do impacto das atividades de indústrias ao redor do planeta.
A pesquisa revela que, em particular, as 14 maiores companhias de petróleo contribuíram de forma significativa para a ocorrência de ondas de calor, sendo que a Petrobras é uma delas. Quando abordada sobre sua parte na questão, a estatal não respondeu à solicitação de comentários. Apesar disso, as pequenas emissoras dentro deste grupo também demonstraram um impacto substancial na ocorrência de eventos climáticos extremos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), ondas de calor estão ligadas a aproximadamente 500 mil mortes anuais. Em 2023, eventos extremos levaram a temperaturas 2°C mais altas até em regiões como a Lapônia, na Finlândia, e contribuíram para um incêndio florestal devastador na Europa, que consumiu mais de um milhão de hectares.
Em um exemplo trágico, uma onda de calor em 2010 resultou em 38 mortes em cidades brasileiras como Nova Lima e Rio de Janeiro. Tais fatos reforçam a necessidade de uma responsabilização mais profunda e individualizada das entidades que contribuem para a mudança climática, um tópico que a pesquisa busca explorar.
Recentemente, decisões jurídicas têm se alinhado a essa ideia. Em julho, a Corte Internacional de Justiça afirmou que a mudança climática representa uma “ameaça urgente e existencial”, obrigando estados a proteger o clima de emissões de gases de efeito estufa. Isso cria um ambiente favorável para ações legais que busquem compensações por danos climáticos.
Companhias como ExxonMobil e Saudi Aramco tiveram um papel destacado no estudo, levando a 51 das ondas de calor analisadas a serem 10 mil vezes mais prováveis devido às suas emissões. Quando questionadas, as empresas não ofereceram comentários sobre os achados.
Essa nova abordagem científica está mudando a narrativa sobre a contribuição individual para as mudanças climáticas. Especialistas da área estão otimistas de que um melhor entendimento dos impactos individuais de empresas ajudará na responsabilização das emissoras.
A professora Sonia Seneviratne, uma das autoras do estudo, destaca que a capacidade de quantificar a contribuição específica de emissores individuais pode ser crucial para futuras políticas ambientais. Este avanço científico abre caminhos para que a responsabilização se torne mais eficaz e necessária num mundo em que o aquecimento global se intensifica.
No entanto, empresas citadas como a Vale reconhecem a importância de tais estudos, ressaltando seu compromisso com a descarbonização. Enquanto isso, a Petrobras continua sem fornecer uma resposta clara sobre sua posição.
A necessidade de uma ação imediata e efetiva das indústrias é premente, considerando o impacto devastador das ondas de calor e suas manifestações no cotidiano da população. É um apelo urgente para um reexame das práticas corporativas e uma busca por soluções sustentáveis.
Imagem Redação
Postar comentário